quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Com 12 mil presos, delegacias são convite a fugas

Átila Alberti/Tribuna / Armas usadas na invasão à delegacia foram apreendidas Armas usadas na invasão à delegacia foram apreendidas falta de Segurança

Distritos policiais e cadeias públicas do Paraná abrigam 43% de toda a população carcerária do estado

A invasão da delegacia de Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, que resultou no resgate de seis presos, na madrugada de ontem, expôs mais uma vez a fragilidade do sistema penitenciário do Paraná.

As delegacias e distritos policiais do estado, que deveriam manter detidos apenas em caráter provisório, abrigam atualmente 11.969 presos – alguns deles condenados. O número equivale a 43% de toda a população carcerária de todo o estado, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju). Já a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informa que a capacidade limite nas delegacias do Paraná é de 6 mil detentos.

Para o presidente do Sin­dicato dos Investigadores de Polícia do Paraná (Sipol), Roberto Ramires Pereira, o acondicionamento de presos em locais inadequados está diretamente relacionado às rebeliões e à percepção de um aumento no número de fugas. O fato de delegacias servirem como presídio de maneira sistemática é o ponto mais preocupante, em sua opinião. “Os bandidos sabem da precariedade do sistema e agem na certeza da impunidade”, diz.
Reação da polícia
PM prende fugitivo e cinco suspeitos de terem promovido resgate
Patricia Pereira

A Polícia Militar capturou na tarde de ontem um dos fugitivos da delegacia de polícia de Campina Grande do Sul e mais cinco pessoas que teriam promovido a ação criminosa que resultou na fuga. A delegacia foi invadida por pelo menos dez homens armados com pistolas e armas longas.

Depois de render os dois policiais de plantão, os criminosos foram até as celas e libertaram seis presos. Depois arrombaram salas da delegacia. O grupo levou ainda duas espingardas calibre 12 e um rádio utilizado para a comunicação pela polícia.

Na tarde de ontem, um foragido e cinco suspeitos foram encontrados em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, segundo o capitão da PM Márcio Machado. A polícia recebeu uma denúncia anônima informando que havia um Golf na cor preta, com integrantes da quadrilha. O carro foi localizado e, dentro dele, quatro homens, que portavam uma pistola calibre nove milímetros e três espingardas calibre 12, além de um colete balístico.

Na sequência, os policiais encontraram os outros dois suspeitos em uma residência em Piraquara. A identificação oficial deve ser feita somente hoje. A polícia continua na procura dos outros cinco fugitivos.

Superlotação

A carceragem onde estavam os presos tem capacidade para entre 10 e 15 pessoas, segundo os policiais, mas abrigava 39 no momento da invasão. Com a fuga, a delegacia tem agora 33 presos.
O presidente do Sipol afirma que é fundamental a organização do governo para a construção de novos presídios, ainda que à custa de aumento de impostos. “É um preço que a sociedade tem de pagar. Há 25 anos o governo só oferece paliativos. Quanto tempo mais esperaremos?” Pereira ainda diz que os investigadores de polícia trabalham desmotivados porque não conseguem exercer a função para a qual foram aprovados em concurso público. “Os novos policiais vêm e me dizem que a maior vontade deles é uma coisa bem simples, investigar, mas não conseguem porque têm de cuidar de preso”, afirma.

Interdição sem efeito

A Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos de Curi­tiba foi interditada no último dia 5 pela Vigilância Sanitária. No entanto, segundo o diretor de Saúde Ambiental da prefeitura, Luiz Antônio Bittencourt Teixeira, há poucas possibilidades de que o lugar realmente deixe de abrigar presos. A Vigilância Sanitária enviou o ofício de interdição para a Vara de Execuções Penais e Corregedoria dos Presídios.

“Como técnico, nós fazemos o que temos de fazer, porque o local não tem condições. Mas eu até entendo que não haja interdição de fato. Onde vão colocar os presos?” Segundo Teixeira, a delegacia abriga inclusive presos condenados.

Teixeira afirma que em 2008 e 2009 realizou outras três interdições em delegacias de Curitiba, sempre sem efeito prático. “É uma situação conjuntural que vai muito além de nossa alçada. Não é um problema de Curitiba, nem do Paraná, é de todo o Brasil.”

Publicado em 19/09/2012 | André Simões, especial para a Gazeta do Povo

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