Polícia comunitária reduz drasticamente mortes
LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
Ainda que, na prática, o resultado possa não ser
tão romântico e otimista quanto o apresentado, não há como negar o valor quase
heróico da iniciativa. Para ela eu tiro o chapeu!
Num país em que as cabeças estão midiaticamente
formatadas (só) para tragarem sangue, violência e mortes no trabalho policial, o
vídeo surpreende (e muito), dando a sensação, ainda que momentaneamente, de que
o Brasil tem jeito! Será?
A polícia comunitária não é uma ideia nova (foi
formulada em 1829 por sir Robert Peel, na Inglaterra). Desde os anos 80 vem se
desenvolvendo fortemente nos EUA. Até hoje não existe consenso na criminologia
sobre o modelo ideal de polícia comunitária (Medina Ariza, Prevencion del
delito e seguridad ciudadana), que apresenta uma estratégia e uma filosofia
organizativa diferentes, porque envolve a comunidade e seus problemas, não
somente criminais, senão, sobretudo, sociais, educacionais, sanitários etc.
O Jardim Ângela tem cerca de 50 mil habitantes e,
em 1999, contava com 55 mortes por mês, sendo considerado um dos lugares mais
perigosos do mundo. Agora tem 4 mortes, pasmem, por ano! A quem se deve essa
revolução? À iniciativa da polícia e da comunidade, destacando-se o trabalho de
dois policiais, Adolfo Lóra e Milton Vieira da Silva, que afirmam: “devemos
combater a violência com inteligência e educação”.
A propósito, o bairro ganhou uma biblioteca, com
vários terminais de computador. A população frequenta o local com prazer e
segurança e começa a descobrir o valor da educação, cujo objetivo “é substituir
uma mente vazia por uma mente aberta” (Malcolm Forbes). O grafiteiro da
comunidade escreveu na parece da biblioteca: “País se constrói com livros”.
Criou-se uma aparentemente sólida base
comunitária, fundada na convicção de que a prevenção vale mais que a repressão.
A repressão vem tarde demais, depois que o delito já ocorreu. A polícia está
transmitindo uma outra imagem, que em nada se corresponde à clássica trilogia da
repressão, violência e corrupção.
O ganho para a comunidade também foi
extraordinário: menos violência, ninguém está morrendo com balas perdidas,
diminuição drástica na discriminação contra os moradores do bairro, cujos
créditos antes eram cortados, somente por serem do Jardim Ângela, etc.
Como se constrói uma comunidade sadia? Com
“harmonia e amor”. Um encontro musical no bairro, por exemplo, reuniu mais de
300 cantores e bandas. Sempre que criticamos a “solução” repressiva monocórdia
do Estado nos perguntam: e qual é a solução? Agora já temos uma resposta na
ponta da língua: Jardim Ângela, polícia comunitária!
*LFG – Jurista e professor. Fundador da Rede de
Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do
atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de
Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me: www.professorlfg.com.br
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