Em Londrina, as prisões entre o sexo feminino cresceram 76% em 2009. Maioria foi detida por tráfico de drogas
Por: Telma Elorza
No período de um ano, o número de mulheres presas em Londrina aumentou 76%. No ano passado, foram 194 mulheres detidas contra 110 em 2008. Os dados são da 10ª Subdivisão Policial (SDP). No total, o número de prisões cresceu apenas 17,7%, com 2.079 prisões em 2008 e 2.448, em 2009. As mulheres representam apenas 7,92% do universo, mas de acordo com o delegado-chefe da 10ª SDP, Sérgio Barroso, apesar do número ser pequeno dentro do universo de prisões, os dados coletados são preocupantes. “Fui obrigado a reativar a carceragem do 4º Distrito (Policial), no ano passado, por causa do número de prisões de mulheres. Se continuar neste ritmo, não sei onde vamos parar”, diz.
Barroso explica que a maioria das mulheres foi presa por tráfico de drogas. “E isso reflete que elas estão ficando muito mais atuantes nesta área. Muitas vezes, o companheiro é detido e ela assume a função, como uma forma de sobrevivência. Ou até cai junto”, explica. Segundo o delegado, o segundo tipo de crime mais praticado pelas mulheres é o furto, também ligado ao tráfico. “A maioria faz isso para sustentar o vício”, explica. De acordo com ele, poucos são os casos onde a mulher usa de violência. “Os casos de homicídios e roubos são minoria. Os de homicídio, por exemplo, são sempre casos de crimes passionais”, afirma.
Os dados da Polícia Civil são confirmados por números da Vara de Execuções Penais (VEP). De acordo com a juíza substituta da VEP, Zilda Romero, 75% das 126 mulheres presas no 3º e 4º Distritos Policiais (DP) foram detidas por tráfico de drogas; 24% por delitos contra o patrimônio (furto) e apenas 1% por homicídio. Entre elas, estão mulheres de 19 a 67 anos.
Os dois distritos são as únicas unidades prisionais femininas disponíveis na cidade com 36 e 24 vagas, respectivamente. No 3º DP estão 50 presas provisórias e 23 condenadas. No 4º DP, são 36 presas provisórias e 17 condenadas. No Estado, só existem duas unidas prisionais para presas condenadas, uma de regime fechado e outra de regime semi-aberto. Ambas ficam em Curitiba. “A maioria das condenadas não quer ser removida. Preferem enfrentar superlotação para não ficar longe dos filhos e companheiros”, diz a juíza. As únicas removidas compulsoriamente são as grávidas. “A partir do 6º mês, fazemos a remoção para o Complexo Médico Penal. Nos DPs é impossível mantê-las e aos bebês”, explica.
Recuperação é mais fácil e reincidência menor
Para a juíza substituta da VEP, Zilda Romero, a entrada da mulher no crime tem um custo social muito maior que o do homem por causa dos filhos. “Quando um homem é preso, bem ou mal, a companheira fica cuidando dos filhos. Quando a mulher é presa, na maioria dos casos o companheiro também já está preso ou ela é sozinha. O resultado é que um número muito grande de crianças fica sem ninguém”, explica. Esses são os casos da maioria das crianças que estão hoje em abrigos, indisponíveis para adoção.
Por outro lado, a juíza vê um aspecto positivo: as mulheres são muito mais fáceis de serem recuperadas e reingressar na sociedade como pessoas produtivas. “Dificilmente elas voltam a reincidir no crime. A maioria já chega na frente do juiz arrependida. Se for jovem, ela se preocupa com o pai ou a mãe. Se for mais velha, com os filhos”, diz.
Segundo ela, poucas têm a mesma atitude de frieza do homem em situações semelhantes. “Se der uma oportunidade para a mulher presidiária, seja de profissão ou estudo, ela vai agarrar com unhas e dentes”, afirma. Isso, segundo ela, é comprovada pelas próprias fichas criminais: são poucas as com antecedentes criminais. “A maioria está presa pela primeira vez”, afirma.
Mara foi presa por associação com o tráfico
No corpo, estão as marcas da violência causada por um ex-companheiro: várias quelóides resultantes de queimaduras de cigarro, feitas durante sessões de tortura. No rosto, no entanto, um sorriso aberto e um brilho no olhar. Difícil entender como Rosemara de Souza, a Mara, 37 anos, presa há quatro, oito filhos (com idades entre 7 e 23 anos), consegue manter a alegria de viver depois de passar por tantas adversidades. Mas é isso que a reportagem encontrou na carceragem do 3º DP de Londrina.
Mara foi presa quando a polícia invadiu sua casa e encontrou papelotes de crack e uma arma escondida. Seu companheiro na época, pai do seu filho mais novo, era um conhecido traficante e foi preso juntamente com ela. A casa em que morava já tinha sido uma “boca” por muitos anos. Ela diz que fez o companheiro parar de vender drogas ali, depois que foi morar com ele. “Mas muitos dos amigos dele da época de ‘boca’ continuava a frequentar minha casa. E um deles levou a droga e arma”, conta. Pelo crime de associação com o tráfico, Mara foi condenada a nove anos de prisão. Ela reconhece que não era inocente. Sabia do tráfico. “Mas eu nunca trafiquei”, diz.
Do semi-aberto voltou para o regime fechado
Mara já poderia estar em liberdade condicional, se não tivesse se evadido da penitenciária de regime semi-aberto, em Curitiba. “Eu fui burra de não avisar eles. Mas eu vim para cá, de portaria, e encontrei meu menino de sete anos cuidando de minha mãe, cadeirante. Ele era o responsável por ela tomar remédios e até levá-la ao banheiro. Quando vi as mãozinhas dele com calos, não pude voltar”, conta. Ficou quatro meses até ser recapturada. A mãe morreu um mês depois. Pegou mais um ano de regime fechado. Mas não se arrepende.
Hoje, Mara conta as horas para sair da cadeia. E tudo o que quer é uma oportunidade de arrumar um emprego. “Aprendi a costurar na penitenciária, mas faço de tudo, faxina, qualquer coisa. O que eu quero é trabalhar”, diz. Tráfico nunca mais. “Não vou voltar pra cá por causa de homem nenhum”, garante.
Fonte: Gazeta do Povo
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
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