terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Apoio ajuda ex-presos a superar reincidência

Por: Fabiula Wurmeister


Confira a matéria exibida hoje na RPC sobre o mutirão carcerário e sobre a realidade do egresso no mercado de trabalho em Foz do Iguaçu

  

Foz do Iguaçu - Empregar ou não um ex-detento? Essa é a pergunta que a maioria das pessoas se faz quando está diante de um candidato à vaga de emprego que já tenha passado um período da vida atrás das grades. Diante da situação, a primeira reação geralmente é a de resistência. O desconforto, relatam ex-presos, é visível. Depois de mais uma resposta negativa, duas alternativas: continuar tentando ou voltar à criminalidade. A reportagem da Gazeta do Povo ouviu duas histórias positivas, de pessoas que insistiram na primeira opção.




Sobrevivendo de “bicos”, o carpinteiro e pedreiro José Gon­­çalino dos Santos, 52 anos, passou quase dez anos preso por homicídio. Em liberdade desde 2005, no começo teve dificuldades. Uma carta de recomendação do diretor da Colônia Penal Agrícola, em Piraquara, facilitou as coisas. “Mas vi muitos voltarem para a cadeia por falta de oportunidade.”



Enquanto em alguns casos o preconceito surge como obstáculo intransponível, em outros a força de vontade e a sensibilização são fundamentais para a mudança. “Sem isso, as alternativas seriam bem menores e as chances de dar certo também”, avalia Ramão Oliveira, 43 anos, professor de matemática no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, em Foz do Iguaçu, desde 2000, quando saiu da cadeia. Passou três anos preso por ter sido flagrado com droga escondida entre caixas de cigarro e, depois, quase um ano procurando emprego.



Para os que defendem as correntes mais modernas do Direito, o cumprimento da pena em regime fechado desvirtua o que seria uma das funções do aprisionamento, além da punição: o de tirar o criminoso de circulação para proteger a sociedade. “O contato com pessoas que cometeram delitos mais graves e a necessidade de sobrevivência na prisão acabam levando algumas pessoas a se fixar no mundo do crime”, explica o advogado e especialista em Direito Penal René Ariel Dotti. “Mesmo que este não seja o comportamento de todos, a sociedade espera que o ex-detento haja toda a vida como um criminoso.”



Muitos têm a preocupação de como será quando estiverem livres outra vez. O caminho para o crime muitas vezes parece muito mais atraente que a indefinição da nova vida, a ponto de facilmente fazer os mais vulneráveis sucumbirem à tentação. “Sem o acompanhamento que tive logo depois de recuperar a liberdade e a confiança que recebi, minha vida seria outra”, diz Oliveira. Encaminhado para trabalhar na secretaria do colégio, um ano depois prestou concurso público e garantiu uma vaga entre os docentes. “Nunca me imaginei dando aula, agora não consigo me ver fazendo outra coisa.”



A experiência dentro e fora da cadeia em certas ocasiões serve de exemplo nas conversas com os alunos dos cursos supletivos, muitos com histórias de vida semelhantes. “Não foram poucas as vezes que notei problemas com alguns alunos. Nem todos querem falar, mas quando noto algum problema consigo conversar na mesma língua.”






Fonte: Gazeta do Povo

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