sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Entidades criticam instalação de leitos extras em presídios do Paraná

Sistema Prisional

Entidades criticam instalação de leitos extras em presídios do Paraná


Secretaria de Justiça pretende criar 800 vagas em penitenciárias, colocando mais camas em algumas celas individuais. Entidades dizem ser contra a medida pela falta de infraestrutura, possibilidade de superlotação e riscos aos agentes

A decisão da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, (Seju) de criar 800 novas vagas em presídios paranaenses, colocando leitos extras em parte das celas de algumas unidades prisionais do estado, provocou a reação de entidades diretamente envolvidas na questão. A Comissão de Direitos Humanos da subseção paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR) e o Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) se posicionaram contra a medida anunciada pelo governo, sem data para ser iniciada. Entre os argumentos das entidades, estão falta de infraestrutura, possibilidade de superlotação e riscos aos agentes.
O presidente do Sidarspen, José Roberto Neves, avalia que a colocação de mais camas em celas é um paliativo que pode acirrar problemas de convivência entre presos. Segundo ele, a criação de novas vagas só funcionaria se viesse acompanhada da ampliação de espaços de convivência e do aumento do número de agentes. “Não é só você colocar leito em celas que você vai resolver o problema. A gente entende que é inseguro, porque algumas unidades vão operar além da capacidade”, disse.
Relatório constata más condições
Entre 7 de agosto a 14 de setembro deste ano, a Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR visitou e vistoriou todas as unidades do sistema penitenciário do Paraná. O relatório aponta que, na maioria dos presídios paranaenses, os presos são mantidos “em estruturas e locais inadequados”. “Os estabelecimentos, com raras exceções, foram construídos sem que seus projetos levassem em conta a finalidade a que eram destinados e sem qualquer previsão à execução penal, com pouca infraestrutura para o trabalho, lazer, educação, visitas e outras atividades relacionadas ao bem-estar do preso”, diz o relatório.
O relatório da comissão da OAB-PR constatou que o sistema prisional do estado “encontra-se praticamente sem nenhuma condição de aumentar a população existente”. A entidade se preocupa com as condições em que os detentos passariam a viver, com os leitos extras.
“Criar milhares de vagas nos estabelecimentos penais com a simples colocação de mais uma ou duas camas por cela, está dilacerando com a alma destas pessoas, tirando o pouco de humanidade que existe em seus corações, transformando-os em verdadeiros bandidos”, afirma o relatório.
A secretária da Seju, Maria Tereza Uille Gomes, afirma que as novas camas representam uma opção viável para ajudar a reduzir a população carcerária, que lota as delegacias do estado. “O Paraná é o estado com maior número de presos em delegacias. Tem celas com capacidade para seis pessoas, mas que abrigam 20 ou 30 presos. Apesar de todo o esforço feito, ainda tem superlotação [nas delegacias]. É muito melhor ter a segunda ou a terceira cama em uma cela do que deixar esses presos se revezando durante a noite para poder dormir”, disse.
Maria Tereza lembra que a medida das camas adicionais será aplicada em alguns presídios do Paraná e que, antes da definição, a Seju realizou uma verificação prévia da viabilidade da iniciativa.
Porcentuais
Segundo a Seju, a colocação das camas extras está respaldada pela resolução número 9 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). O documento estabelece que 2% da capacidade dos presídios têm que ser destinadas a celas individuais, para presos em isolamento (com algum problema de convivência). Antes dessa resolução, casa penitenciária tinha que reservar 5% de sua capacidade para celas individuais.
“Houve uma redução de 3%. Em algumas unidades, essas celas individuais têm o mesmo tamanho de celas coletivas. Então, é possível a colocação de mais uma ou duas camas metálicas”, explica a secretária.
O sindicato, no entanto, afirma que a secretária embasa seus argumentos apenas em parte da resolução. Além das celas individuais destinadas a presos em isolamento, cada unidade também teria que reservar outros 2% de sua capacidade para detentos com dependência química e que esteja em tratamento.
“Portanto, cada presídio deve ter 4% de suas vagas em celas individuais. Não há espaço para cumprir a medida das camas extras. Ela [a secretária] está utilizando a resolução como argumento, mas não está levando em conta o texto todo. Se for levar a resolução em base, não se pode colocar mais um preso em penitenciária no estado”, disse o presidente do Sindarspen.

Fonte: Gazeta do Povo
05/10/2012 | 18:20 | Felippe Aníbal e Diego Ribeiro

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