No Paraná, penitenciária cria projeto de musicalização para os detentos
Projeto foi idealizado por um agente penitenciário e aceito pela direção. Pelo menos 50 presos participam do coral, que funciona há mais de um ano.Coral e banda tem a formação de, pelo menos, 50 detentos (Foto: Eder Oelinton Santos/RPCTV)
O projeto chamado “A música como instrumento de reinserção sociocultural e humanização da pena” tem auxiliado na ressocialização de presos que estão em regime fechado na Penitenciária Industrial de Cascavel (PIC), no oeste do Paraná. Iniciado há mais de um ano, pelo menos 50 detentos participam do coral. Os presos têm duas horas de aula por dia, de segunda a sexta-feira. O grupo já se apresentou em eventos da cidade e de Curitiba.
De acordo com o diretor da PIC, André Romera, a cada 12 horas de curso, os detentos têm um dia a menos de prisão. Com capacidade para 360 presos, a penitenciária opera em sua capacidade máxima.
O treinamento é feito pelo agente penitenciário Adilson Lucas de Brito, que idealizou o projeto, e conta com a ajuda de uma assistente social. Formado em Direito, especialista em segurança pública e direitos humanos, e se especializando em artes, Adilson afirma que começou com o projeto após participar de pesquisas sobre a violência dentro e fora das prisões. “Estou tentando mostrar que é possível fazer um trabalho de resgate”, garantiu.
Presos têm duas horas de aula por dia, de segunda a
sexta-feira (Foto: Eder Oelinton Santos/RPCTV)
A formação da banda é Big Band. Com violão, guitarra, teclado, saxofone, bateria, entre outros, o grupo toca músicas no estilo jazz e gospel. “Nós trabalhamos muito com a questão espiritual da música. Trabalhamos com a questão das letras. Então, o indivíduo acaba achado um certo ponto de referência para ele amanhã, depois”, explicou.
A ideia, de acordo com Brito, é amenizar o cotidiano dentro da prisão, além da reinserção social. “O objetivo é trazer essa reflexão espiritual e interior de cada um de nós. Fazer a música mexer com isso, mexer com aquilo que o ser humano tem de mais precioso, que é a alma. Porque a letra vai fazer ele refletir em muita coisa na vida dele e aflorar os sentimentos. Isso acaba ficando perdido dentro de uma unidade prisional, dependendo de quanto tempo a pessoa fica presa, ou a própria sociedade faz com que perca isso ao longo do tempo”, contou ao G1.
Segundo ele, com o projeto, o comportamento dos presos mudou dentro da prisão. “Os presos que participam, hoje, do projeto, não tem índice algum de qualquer eventualidade dentro da unidade. A conduta deles é ilibar”, acrescentou. Ele também disse que muitos detentos fazem trabalhos externos, trabalham na cozinha e ajudam na parte administrativa da penitenciária.
Projeto passou por dificuldades no começo
(Foto: Eder Oelinton Santos/RPCTV)
Dificuldades
Brito lembra que o começo do projeto foi difícil. Além de conseguir o apoio apenas da direção da penitenciária, não havia recursos para comprar os instrumentos. “Investi com dinheiro do meu próprio bolso para começar o projeto”, complementou. Além disso, para implantar a iniciativa na PIC, ele precisou criar a ONG Instituto Musical Harmonia e Paz para buscar parcerias.
Recentemente, a penitenciária ganhou um apoio financeiro extra de R$ 25 mil de uma fundação. Obtido depois de uma oficina de Mobilização de Recursos realizada em Cascavel, no final de 2012, oferecida pelo Sesi, por meio do Movimento Nós Podemos Paraná, o dinheiro será usado na compra de novos instrumentos.
Além da parte prática, o grupo também conta com aulas de teoria da música. Quem ensina é a Assistente Social da unidade prisional, que atua como voluntária. “Quando eu tive mais contato com o Adilson falei: olha, se você precisar de alguém, eu conheço a teoria musical, toco piano, se precisar estou à disposição”, lembrou Francielle Toscan Bogado.
Segundo ela, que já ensinou outras pessoas fora da prisão, o interesse dos detentos em aprender é muito maior. “Eles são mais dedicados, tanto no trabalho, quando no ensino. Estão sempre se dedicando mais”, acrescentou.
“A música pode ser usada como terapia. As pessoas que tem o tempo para isso, para se dedicar a essa linguagem diferenciada, ela fica mais calma, ela começa a desenvolver a capacidade cognitiva”, argumentou.
Presos dizem que pretendem continuar estudando música
quando saírem da prisão
(Foto: Eder Oelinton Santos/RPCTV)
Espiritualidade
E não são só os servidores que percebem a diferença que a música faz na vida das pessoas. Ao G1, o detento Tiago da Silva Barbosa, que está preso há 2 anos e 7 meses, contou que participa do projeto desde o início. “É uma forma de entretenimento para nós que estamos presos. Queira ou não queira, nós estamos presos de corpo presente, mas a espiritualidade, da hora que a gente está participando da música, a gente está liberto”, disse.
Barbosa, que se dedica em aprender a tocar teclado, afirmou que pretende continuar a estudar música quando sair da prisão. Para ele, o projeto o fez aprender coisas novas e a ocupar a mente. “A gente trabalha a mente. Não fica só pensando em outras coisas”, completou.
Há três anos preso, Jhonatan Cardozo Menezes, de 26 anos, também disse que a música o ajudou. “Deixa a gente mais tranquilo, mais sossegado. Quando não tem aula de música, eu fico ansioso para tocar”, destacou. Como frequenta aos cultos evangélicos dentro da prisão, diz que pretende, assim que ganhar a liberdade, frequentar uma igreja para tocar e cantar. Menezes já aprendeu a tocar violino, clarinete e atualmente está aprendendo o saxofone.
Fonte:Cassiane Seghatti Do G1 PR, em Cascavel
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