Cuidadosamente, criminólogos voltam a estudar até que ponto características que induzem à criminalidade podem ser transmitidas de pai para filho
New York - O uso da biologia para explicar o comportamento de criminosos tem sido rejeitado por criminólogos que preferem ignorar a genética e se concentrar em causas sociais: miséria, vícios corrosivos, armas. Agora que o genoma humano foi sequenciado e cientistas estão estudando a genética de áreas tão variadas como alcoolismo e afiliação política, os criminólogos estão cuidadosamente retornando ao assunto. Um pequeno quadro de especialistas está explorando como os genes podem aumentar o risco de se cometer um crime e se tal traço pode ser herdado.
“Durante os últimos 30 ou 40 anos, a maioria dos criminólogos não podia dizer a palavra ‘genética’ sem cuspir”, diz Terrie E. Moffit, cientista comportamental da Universidade de Duke. “Hoje as teorias modernas mais convincentes sobre crime e violência envolvem ambos os temas sociais e biológicos”.
John H. Laub, diretor de um instituto de criminologia, que ganhou o Prêmio Estocolmo de Criminologia esse mês, se esforça para enfatizar que os genes são governados pelo ambiente, que pode ou amenizar ou agravar impulsos violentos. Muitas pessoas com a mesma tendência à agressão jamais darão um soco em alguém, enquanto outros sem ele podem ter uma carreira no crime.
O assunto ainda levanta questões éticas e políticas sensíveis. Será que uma predisposição genética deveria influenciar os vereditos? Será que testes genéticos poderiam ser usados para adaptar os programas de reabilitação a criminosos individuais? Será que adultos e crianças com um marcador biológico para violência deveriam ser identificados?
Todo mundo na área concorda que não existe um “gene do crime”. O que a maioria dos pesquisadores está procurando são traços herdados relacionados a agressão e comportamentos antissociais, que podem, por sua vez, levar ao crime violento. Não espere que alguém vá descobrir como o DNA de alguém pode identificar o próximo Bernard L. Madoff [um dos maiores fraudadores da história dos EUA].
Um gene que foi ligado à violência regula a produção da monoamina oxidase Aenzima, que controla a quantidade de serotonina no cérebro. Pessoas com uma versão do gene que produz menos dessa enzima tendem a ser significativamente mais impulsivas e agressivas, mas, como Moffitt e seu colega Avshalom Caspi descobriram, o efeito do gene é ativado por experiências estressantes.
Steven Pinker, professor de psicologia de Harvard cujo próximo livro, “The Better Angels of Our Nature” [“Os melhores anjos de nossa natureza”, em tradução livre] defende que seres humanos se tornaram menos violentos ao longo dos milênios, sugere que o melhor modo de se pensar sobre genética e crime é começar pela natureza humana e então observar o que causa a ativação ou não de um traço em particular.
Ele mencionou um dos maiores fatores de risco que levam ao crime: permanecer solteiro em vez de casar-se, uma ligação descoberta por Laub e Robert J. Sampson, um sociólogo de Harvard que foi covencedor do Prêmio Estocolmo. O casamento pode servir como uma chave que redireciona as energias masculinas para serem investidas numa família em vez de em competição com outros homens, Pinker afirmou.
Novas pesquisas tem se focado no autocontrole, além da frieza e falta de empatia, traços regularmente envolvidos na decisão de se cometer um crime. Como com outros traços de personalidade, crê-se que eles tenham componentes ambientais e genéticos, embora o grau de herdabilidade seja discutível.
Entre os achados de um estudo a longo prazo com 1.000 bebês, em 1972, numa cidade da Nova Zelândia, Moffit e seus colegas recentemente relataram que quanto menor o autocontrole exibido aos 3 anos de idade, maior a probabilidade de que ele ou ela cometa um crime mais de 30 anos depois. Entre as crianças, 43% das que obtiveram uma avaliação abaixo de 20% em autocontrole foram mais tarde condenadas por algum crime. Já entre as que tiveram avaliações mais altas, o índice ficou em 13%.
Mas uma predisposição não é predestinação. “Saber que algo é herdado de modo algum nos diz qualquer coisa sobre se isso pode melhorar mudando ou não o ambiente,” diz Moffit. “Por exemplo, o auto-controle é muito parecido com a altura, variando amplamente ao longo da população humana e sendo altamente herdável, mas se uma intervenção eficaz como uma melhor alimentação for aplicada a toda a população, então todo mundo se torna mais alto que a geração anterior”, explica o pesquisador.
Sampson insiste que as questões mais interessantes sobre crime, sobre o porquê de algumas comunidades terem uma criminalidade maior que outras, não são nem um pouco rastreáveis pela genética. “Quanto mais sofisticada a pesquisa genética, mais ela apontará para a importância do contexto social”.
Fonte e Figura: Gazeta do Povo
Tradução: Adriano Scandolara.
Publicado em 16/07/2011
The New York Times
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