sábado, 16 de julho de 2011

Genética e o crime

Cuidadosamente, criminólogos voltam a estudar até que ponto características que induzem à criminalidade podem ser transmitidas de pai para filho


New York - O uso da biologia para explicar o comportamento de criminosos tem sido rejeitado por criminólogos que preferem ignorar a genética e se concentrar em causas sociais: miséria, vícios corrosivos, armas. Agora que o genoma humano foi sequenciado e cientistas estão estudando a genética de áreas tão variadas como alcoolismo e afiliação política, os criminólogos estão cuidadosamente retornando ao assunto. Um pequeno quadro de especialistas está explorando como os genes podem aumentar o risco de se cometer um crime e se tal traço pode ser herdado.

“Durante os últimos 30 ou 40 anos, a maioria dos criminólogos não podia dizer a palavra ‘genética’ sem cuspir”, diz Terrie E. Moffit, cientista comportamental da Universidade de Duke. “Hoje as teorias modernas mais convincentes sobre crime e violência envolvem ambos os temas sociais e biológicos”.

John H. Laub, diretor de um instituto de criminologia, que ganhou o Prêmio Esto­­colmo de Criminologia esse mês, se esforça para enfatizar que os genes são governados pelo ambiente, que pode ou amenizar ou agravar impulsos violentos. Muitas pessoas com a mesma tendência à agressão jamais darão um soco em alguém, enquanto outros sem ele podem ter uma carreira no crime.

O assunto ainda levanta questões éticas e políticas sensíveis. Será que uma predisposição genética deveria influenciar os vereditos? Será que testes genéticos poderiam ser usados para adaptar os programas de reabilitação a criminosos individuais? Será que adultos e crianças com um marcador biológico para violência deveriam ser identificados?

Todo mundo na área concorda que não existe um “gene do crime”. O que a maioria dos pesquisadores está procurando são traços herdados relacionados a agressão e comportamentos antissociais, que podem, por sua vez, levar ao crime violento. Não espere que alguém vá descobrir como o DNA de alguém pode identificar o próximo Ber­nard L. Madoff [um dos maiores fraudadores da história dos EUA].

Um gene que foi ligado à violência regula a produção da monoamina oxidase Aenzima, que controla a quantidade de serotonina no cérebro. Pessoas com uma versão do gene que produz menos dessa enzima tendem a ser significativamente mais impulsivas e agressivas, mas, como Moffitt e seu colega Avshalom Caspi descobriram, o efeito do gene é ativado por experiências estressantes.

Steven Pinker, professor de psicologia de Harvard cujo próximo livro, “The Better Angels of Our Nature” [“Os melhores anjos de nossa natureza”, em tradução livre] defende que seres humanos se tornaram menos violentos ao longo dos milênios, sugere que o me­­lhor modo de se pensar sobre genética e crime é começar pela natureza humana e en­­tão observar o que causa a ati­­vação ou não de um traço em particular.

Ele mencionou um dos maiores fatores de risco que levam ao crime: permanecer solteiro em vez de casar-se, uma ligação descoberta por Laub e Robert J. Sampson, um sociólogo de Harvard que foi covencedor do Prêmio Es­­tocolmo. O casamento pode servir como uma chave que redireciona as energias masculinas para serem investidas nu­­ma família em vez de em competição com outros ho­­mens, Pinker afirmou.

Novas pesquisas tem se focado no autocontrole, além da frieza e falta de empatia, traços regularmente en­­volvidos na decisão de se cometer um crime. Como com outros traços de personalidade, crê-se que eles tenham componentes ambientais e genéticos, embora o grau de herdabilidade seja discutível.

Entre os achados de um estudo a longo prazo com 1.000 bebês, em 1972, numa cidade da Nova Zelândia, Moffit e seus colegas recentemente relataram que quanto menor o autocontrole exibido aos 3 anos de idade, maior a probabilidade de que ele ou ela cometa um crime mais de 30 anos depois. Entre as crianças, 43% das que obtiveram uma avaliação abaixo de 20% em autocontrole foram mais tarde condenadas por algum crime. Já entre as que tiveram avaliações mais altas, o índice ficou em 13%.

Mas uma predisposição não é predestinação. “Saber que algo é herdado de modo algum nos diz qualquer coisa sobre se isso pode melhorar mudando ou não o ambiente,” diz Moffit. “Por exemplo, o auto-controle é muito parecido com a altura, variando amplamente ao longo da po­­pulação humana e sendo altamente herdável, mas se uma intervenção eficaz como uma melhor alimentação for aplicada a toda a população, en­­tão todo mundo se torna mais alto que a geração anterior”, explica o pesquisador.

Sampson insiste que as ques­­tões mais interessantes sobre crime, sobre o porquê de algumas comunidades terem uma criminalidade maior que ou­­tras, não são nem um pouco rastreáveis pela genética. “Quanto mais sofisticada a pesquisa genética, mais ela apontará para a importância do contexto social”.


Fonte e Figura: Gazeta do Povo
Tradução: Adriano Scandolara.
Publicado em 16/07/2011
The New York Times


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