Sem verba especial, polícia precisa pedir ajuda dos comerciantes para alimentar 14 mil presos de 194 delegacias do estado
Os responsáveis por 194 delegacias do Paraná estão precisando improvisar, e até apelar para a boa vontade de comerciantes, para garantir comida para 14 mil presos. Há dois meses o governo estadual não repassa o valor do fundo rotativo da Polícia Civil, que é aplicado na compra de alimentação para os detentos e outras despesas, como consertos de viaturas, aquisição de combustível e de materiais de expediente. O montante de recursos atrasados chega a R$ 2 milhões, sendo que R$ 750 mil são destinados especificamente para a compra de comida.
Delegados e representantes de órgãos que monitoram a situação nas delegacias afirmam que não está faltando alimentação para os detentos. Mas alguns policiais confessam que recorrem a medidas alternativas para oferecer a refeição diária dos detentos. Uma delas é pegar fiado. No município de Antonina, no litoral do estado, a situação é precária, conta o delegado Iberê Tonilo. Ele relata que muitos comerciantes já cobram as dívidas acumuladas pela delegacia. “Temos que ter um bom jogo de cintura, além do ótimo relacionamento com a comunidade”, afirma.
O delegado de Matinhos, Tadeu Belo, afirma que a única forma para poder sustentar a delegacia é comprar e acertar depois. “Não deixamos de pagar essas pessoas. Assim que recebemos o benefício, realizamos o pagamento de tudo que utilizamos”, diz.
Em Paranaguá, os 200 presos do município também estão se alimentando com a ajuda dos estabelecimentos que não deixaram de fornecer comida. Segundo o delegado Miguel Stadler, a comunidade está ajudando muito a delegacia e os mantimentos estão sendo entregues. “Estamos mantendo os padrões de alimentação para não haver qualquer reclamação por parte dos presos”.
Em Sengés, no Norte Pioneiro, o delegado Durval Athayde Filho conta que precisou trocar nesta semana o fornecedor de alimentação dos presos. É que o dono do mercadinho que vendia a comida disse que não poderia mais continuar fornecendo produtos sem receber o pagamento. “Pequenos comerciantes, das cidades menores, não têm capital de giro suficiente pra suportar grandes dívidas. E eu já devo R$ 8 mil”, conta o delegado, que relata atrasos frequentes nos repasses desde agosto. O dono do posto de combustíveis também teria pedido para a polícia maneirar no consumo.
Denúncia
O caso veio à tona depois de visitas feitas pela comissão estadual de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR). Para a vice-presidente da comissão, Isabel Kugler Mendes, a preocupação é que o racionamento nos recursos para as delegacias influencie na qualidade da comida fornecida, que pode ter reflexo na debilitação dos detentos. A Pastoral Carcerária, através da coordenadora estadual Leiri Rasini, confirma que, pelo relato dos agentes que atendem em todo o Paraná, os presos estão recebendo atualmente alimentação nos mesmos padrões dos últimos anos. Ela lembra que muitos familiares levam comida para os detentos.
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) reconhece que o fundo rotativo ainda não foi repassado neste ano, mas alega que a transição de governo acarreta consequências, como a necessidade de avaliar cada uma das despesas. O governo promete normalizar o repasse na segunda-feira e informou que já quitou dívidas acumuladas referentes ao fundo rotativo que ultrapassam R$ 3,3 milhões. A assessoria de imprensa da Sesp nega que presos estejam passando fome e também que o atraso seja resultado de falta de dinheiro em caixa.
Fonte e Foto: Gazeta do Povo
Texto: Katia Brembatti, da sucursal, e Bianca Marchini, correspondente
Publicado em 19/02/2011
0 comentários:
Postar um comentário