sábado, 19 de fevereiro de 2011

ABSURDO: Delegacias pegam comida “fiado”

Sem verba especial, polícia precisa pedir ajuda dos comerciantes para alimentar 14 mil presos de 194 delegacias do estado



Os responsáveis por 194 delegacias do Paraná estão precisando improvisar, e até apelar para a boa vontade de comerciantes, para garantir comida para 14 mil presos. Há dois meses o governo estadual não repassa o valor do fundo rotativo da Polícia Civil, que é aplicado na compra de alimentação para os detentos e outras despesas, como consertos de viaturas, aquisição de combustível e de materiais de expediente. O montante de recursos atrasados chega a R$ 2 milhões, sendo que R$ 750 mil são destinados especificamente para a compra de comida.


Delegados e representantes de órgãos que monitoram a situação nas delegacias afirmam que não está faltando alimentação para os detentos. Mas alguns policiais confessam que recorrem a medidas alternativas para oferecer a refeição diária dos detentos. Uma delas é pegar fiado. No município de Antonina, no litoral do estado, a situação é precária, conta o delegado Iberê Tonilo. Ele relata que muitos comerciantes já cobram as dívidas acumuladas pela delegacia. “Temos que ter um bom jogo de cintura, além do ótimo relacionamento com a comunidade”, afirma.

O delegado de Matinhos, Tadeu Belo, afirma que a única forma para poder sustentar a delegacia é comprar e acertar depois. “Não deixamos de pagar essas pessoas. Assim que recebemos o benefício, realizamos o pagamento de tudo que utilizamos”, diz.

Em Paranaguá, os 200 presos do município também estão se alimentando com a ajuda dos estabelecimentos que não deixaram de fornecer comida. Segun­do o delegado Miguel Stadler, a comunidade está ajudando muito a delegacia e os mantimentos estão sendo entregues. “Estamos mantendo os padrões de alimentação para não haver qualquer reclamação por parte dos presos”.

Em Sengés, no Norte Pioneiro, o delegado Durval Athayde Filho conta que precisou trocar nesta semana o fornecedor de alimentação dos presos. É que o dono do mercadinho que vendia a comida disse que não poderia mais continuar fornecendo produtos sem receber o pagamento. “Pequenos comerciantes, das cidades menores, não têm capital de giro suficiente pra suportar grandes dívidas. E eu já devo R$ 8 mil”, conta o delegado, que relata atrasos frequentes nos repasses desde agosto. O dono do posto de combustíveis também teria pedido para a polícia maneirar no consumo.

Denúncia

O caso veio à tona depois de visitas feitas pela comissão estadual de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR). Para a vice-presidente da comissão, Isabel Kugler Mendes, a preocupação é que o racionamento nos recursos para as delegacias in­­fluencie na qualidade da comida fornecida, que pode ter reflexo na debilitação dos detentos. A Pastoral Carcerária, através da coordenadora estadual Leiri Rasini, confirma que, pelo relato dos agentes que atendem em todo o Paraná, os presos estão recebendo atualmente alimentação nos mesmos padrões dos últimos anos. Ela lembra que muitos familiares levam comida para os detentos.

A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) reconhece que o fundo rotativo ainda não foi repassado neste ano, mas alega que a transição de governo acarreta consequências, como a necessidade de avaliar cada uma das despesas. O governo promete normalizar o repasse na segunda-feira e informou que já quitou dívidas acumuladas referentes ao fundo rotativo que ultrapassam R$ 3,3 milhões. A assessoria de imprensa da Sesp nega que presos estejam passando fome e também que o atraso seja resultado de falta de dinheiro em caixa.

Fonte e Foto: Gazeta do Povo
Texto: Katia Brembatti, da sucursal, e Bianca Marchini, correspondente
Publicado em 19/02/2011

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