Sistema carcerário: bomba relógio com tragédias anunciadas
LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
A situação carcerária nacional é muito
preocupante. Caso persistam as suas condições atuais, pode-se concluir que
jamais o Brasil será uma grande nação. Pode até ser economicamente forte, mas
seus pés são (praticamente) todos de barro.
O Brasil fechou o ano de 2011 com um total de
514.582 presos (números mais atualizados do DEPEN
– Departamento Penitenciário Nacional).São 270 para cada 100 mil
habitantes -, se mantendo no 4º lugar dentre os mais encarceradores do
mundo (veja o ranking completo do ICPS –
International
Centre for Prison Studies).
Só na última década o número de
presos cresceu 120%, já que em 2001, o país possuía 233.859
detentos. No mesmo período, o número de presos provisórios
dobrou, chegando a 173.818 detentos (antes eram
78.437) e o número de mulheres presas aumentou 245% (em 2001,
elas eram 9.873).
Em razão desse crescimento desenfreado, hoje
o país carece de 208.085 vagas em seus estabelecimentos penais,
havendo 68% mais presos do que vagas (Veja: Déficit
de 208.085 vagas no sistema prisional) e 43.328 detentos
alojados precariamente em delegacias.
Apenas 9 crimes são responsáveis por 94% dessas
prisões, são eles: Tráfico de Entorpecentes
(nacional e internacional), Roubo (simples e qualificado),
Furto (simples e qualificado), Homicídio
(simples e qualificado), Porte ou
posse de arma, Latrocínio,
Estupro (unificado ao atentado violento ao pudor),
Receptação e Quadrilha ou bando. Veja o
gráfico e os percentuais no gráfico abaixo:
E ainda, apenas os crimes de tráfico
nacional de entorpecentes, roubo e furto representam 68% do total de prisões no
país. Crimes majoritariamente cometidos fundamentalmente por
marginalizados sociais, muitos deles esquecidos pelo Estado, antes, durante e
depois de suas prisões (Veja: Drogas:
80% das prisões por leis especiais; Região
Centro-Oeste: descaso estatal, arbitrariedades e superlotação dos presídios
e Região
Sudeste: retrato da ilegalidade, descaso e afronta aos direitos humanos dos
presos).
Além de não tornar o país mais seguro nem
diminuir o medo da população, nossa cultura punitivista em relação aos crimes
não violentos (55% dos presos), seguida pelos aplicadores do direito e motivada
pelo populismo penal midiático, apenas contribui para o aumento da violência e
da incivilidade no país (Brasil
é o 20º país mais violento do mundo. Alagoas é o campeão nacional, PM mata mais:
pena do gatilho leve).
Obviamente que não se trata de defender a
impunidade, mas sim a proporcionalidade, necessidade e humanidade desses
aprisionamentos, que deveriam ficar reservados apenas para os crimes violentos
(45%). Quanto aos crimes não violentos, necessitamos mesmo é de melhores
políticas sociais e educacionais.
*LFG – Jurista e cientista criminal. Fundador da
Rede de Ensino LFG. Codiretor do Instituto Avante Brasil e do
atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de
Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me nas redes sociais: www.professorlfg.com.br
** Colaborou: Mariana Cury Bunduky – Advogada e
Pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes
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