Goiás: quem dita as regras são os presos
LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
Pesquisadora: Mariana Cury Bunduky**
Pesquisadora: Mariana Cury Bunduky**
Com uma taxa de 212,49 presos a cada 100
mil habitantes (de acordo com os levantamentos do Instituto de Pesquisa
e Cultura Luiz Flávio Gomes, a partir dos números do DEPEN
– Departamento Penitenciário Nacional), Goiás é o
16º estado mais encarcerador do
Brasil.
O Relatório
do Mutirão do CNJ apontou que na maior unidade prisional do estado, a
Penitenciária Coronel Odenir Guimarães, que abriga 1.435 detentos, são
os presos que dão as ordens. Eles definem, por exemplo, em quais celas
ficarão os presos novos. Por essa razão, em uma delas, com capacidade
para apenas duas pessoas, havia 35 detentos amontuados, alguns até pendurados no
teto.
Em contrapartida, outros detentos possuem
regalias como churrasqueira, televisão, geladeiras e botijões de gás.
Ao mesmo tempo, o lado externo do estabelecimento, onde todos os presos
tomam banho de sol, encontra-se completamente tomado por lixo e
moscas.
Este foi o cenário encontrado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
durante o Mutirão Carcerário realizado entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011
por todo o país.
Em Anápolis, 338 homens ocupavam uma cela com
capacidade para 168 pessoas. No pavilhão mais lotado da unidade, há seis
homens por vaga. A mesma situação foi encontrada em Águas Lindas, onde
50 vagas são ocupadas por 127 presos.
Outros problemas enfrentados pelo estado são a
falta de segurança, de alimentos e de assistência médica.
Nas cadeias de Formosa e Planaltina, por exemplo,
foram encontradas armas brancas, telefones celulares, drogas e até
videogames. Ao mesmo tempo, na casa prisional de Caçu, um único
agente penitenciário desarmado fiscalizava 30
presos.
Em razão da insuficiência de alimentos recebidos
pelo Estado, em muitos dos presídios, os próprios presos
comercializam-nos em cantinas internas e, ainda, é permitido que suas
familias levem comida, roupas e medicamentos durante as visitas, o que
facilita a entrada de armas, drogas e celulares nas celas.
Quem supre a deficiência do governo
estadual na entrega de materias de higiene e limpeza nas prisões são as
prefeituras e os conselhos de comunidade e, por falta de médicos nos
estabelecimentos, os detentos doentes têm de ser atendidos nos postos de saúde e
hospitais públicos.
Assim, em Goiás, a lacuna estatal contribui com a
proliferação do caos e deficiência generalizada do sistema carcerário.
Comentários do Professor Luiz Flávio Gomes:
Preliminarmente: Por profunda
convicção humanista, ética e filosófica, não concordo nem apoio, ostensiva ou
veladamente, qualquer tipo de violência, salvo em caso de comprovada e absoluta
necessidade (legítima defesa, por exemplo). Sou contra a violência dos
criminosos particulares (agressores, assassinos, estupradores etc.) (recordo que
meu pai também foi assassinado), assim como refuto todo tipo de violência
vingativa que alguns carniceiros e torturadores dos poderes públicos, com amplo
apoio de densos setores da sociedade e da mídia, empregam contra os suspeitos,
os inocentes, os presos e os culpados, transformando-os também em vítimas da
violência ilegítima do terror do Estado.
De acordo com o Informe da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (divulgado em 10.05.12) a situação degradante
encontrada nos cárceres das Américas é resultado de dois fatores: (a) décadas de
desatenção em relação ao problema prisional” pelos governos da região e (b)
“apatia da sociedade”, que prefere não ver o problema. Esses dois fatores
converteram as prisões em “âmbitos carentes de monitoramento e de fiscalização”,
onde então impera “a arbitrariedade e a corrupção”. A ausência de controle
estatal vem gerando a inusitada situação de autogoverno ou governo
compartilhado, que é causa tanto da corrupção endêmica que viceja nesses
estabelecimentos penais como dos altos índices de violência, bem como do comando
de seguimentos do crime organizado desde dentro dos presídios.
*LFG – Jurista e cientista criminal. Fundador da
Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz
Flávio Gomes e co-diretor da LivroeNet. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983),
Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me no facebook.com/professorLFG, no
blogdolfg.com.br, no twitter:
@professorLFG e no YouTube.com/professorLFG.
**Advogada e Pesquisadora do Instituto de
Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes
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