Minas Gerais: adolescentes infratores dividem cela com adultos
LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
Pesquisadora: Mariana Cury Bunduky**
Pesquisadora: Mariana Cury Bunduky**
O estado de Minas Gerais apresenta uma taxa de
230,56 presos a cada 100 mil habitantes, que o coloca
em 14º lugar dentre os estados
mais encarceradores do país (análise do Instituto de
Pesquisa e de Cultura Luiz Flávio Gomes, baseada nos números do DEPEN
– Departamento Penitenciário Nacional, de junho de 2011).
Não obstante ser pioneiro num projeto bem
sucedido relacionado à reintegração social, de acordo com o Mutirão Carcerário,
realizado entre 2010 e 2011, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o
sistema carcerário mineiro ainda padece de moléstias como
superlotação, prisões ilegais e
insalubridade.
Assim, conforme o Relatório
do Mutirão 2010/2011, a criação mineira de um projeto de reintegração social
denominado Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac), que se
baseia no voluntariado, na assistência médica e jurídica ao preso, no incentivo
ao trabalho para o detento e na relação deste com sua família, conquistou
grandes resultados.
O projeto se expandiu por dezenas de
estabelecimentos do estado e já foi até levado ao exterior. Seu custo
corresponde a um terço do que é gasto com a manutenção do preso na
cela e, enquanto o índice de reincidência de um preso comum é
de 70%, a reincidência entre os detentos atendidos pela Apac é de apenas
15%.
Contudo, apesar do sucesso da inciativa, a
realidade das prisões mineiras ainda é muito desoladora.
Em várias unidades do estado, em total
contrariedade à lei, mais de 200 adolescentes infratores encontram-se
presos, dividindo celas com detentos adultos, em vez de cumprirem
medidas socioeducativas. No Presídio de Sabará, por exemplo, duas celas
são destinadas a menores, que convivem com mais 97 presos,
havendo oito colchões para cada 15 pessoas.
Já na Penitenciária José Maria Alckmin, em
Ribeirão das Neves, as celas e corredores são escuros, sujos e mal
ventilados. Enquanto que, no Centro de Remanejamento Prisional
Centro-Sul, as presas só conseguem tomar banho frio, inclusive no
inverno, e convivem com um grande número de ratos e baratas ao
seu redor.
O judiciário do estado, por sua vez, é
extremamente deficiente. A desmedida demora no cumprimento de alvarás de
soltura gera uma infinidade de prisões irregulares num universo de
46.190 presos. Em razão disso, o Mutirão libertou 3.170
presos ilegais, dentre eles um que já havia cumprido sua pena há um
ano.
Desta forma, embora o sistema penitenciário
mineiro seja modelo aos demais estabelecimentos do pais, no que concerne a
implementação do projeto de reintegração social, a estrutura carcerária do
estado é precária e subumana e, deficiências como insalubridade e superlotação,
também são marcas do estado mineiro.
*LFG – Jurista e cientista criminal. Fundador da
Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz
Flávio Gomes e co-diretor da LivroeNet. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983),
Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me no facebook.com/professorLFG, no
blogdolfg.com.br, no twitter:
@professorLFG e no YouTube.com/professorLFG.
**Advogada e Pesquisadora do Instituto de
Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes.
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