Rio Grande do Norte: celas são verdadeiras jaulas
LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
Pesquisadora: Mariana Cury Bunduky**
Pesquisadora: Mariana Cury Bunduky**
As análises do Instituto de Pesquisa e de Cultura
Luiz Flávio Gomes, baseadas nos números do DEPEN
(Departamento Penitenciário Nacional), de junho de 2011, apontaram que, com
uma taxa de 212,81 presos a cada 100 mil habitantes, o Rio
Grande do Norte ocupa a 15ª
posição dentre os mais encarceradores do Brasil.
Apesar de assumir uma posição mediana dentre
todos os estados, os problemas enfrentados pelo sistema carcerário
norte-rio-grandense não são poucos. O arcaísmo de suas prisões
(muitas das quais improvisadas), a superlotação das
celas e a coabitação irregular de todos os tipos de
presos num mesmo local tornam a sobrevivência entre os presos muito
difícil.
De acordo com os relatos do Mutirão Carcerário
realizado pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), entre janeiro de 2010 e janeiro de 2011, nas
celas das prisões do estado, que se assemelham a verdadeiros calabouços da Idade
Média, é difícil até respirar.
Para suprir a falta de presídios, num universo de
6.677 presos, o Poder Executivo local, sem fazer qualquer
reforma ou adaptação, simplesmente transformou as delegacias de
Polícia do estado em Centros de Detenção Provisória, os quais se encontram em
estado de total precariedade.
Segundo o Relatório
do CNJ, o Mutirão recomendou a interdição de ao menos três unidades
localizadas em Natal (quais sejam, os Centros Penitenciário da Ribeira, das
Quintas e da Zona Norte), consideradas as piores do estado, por atentarem
frontalmente contra a dignidade da pessoa humana.
As ilegalidades também são muitas. No Complexo
Penal Dr. João Chaves, na Capital, por exemplo, em total contrariedade à lei,
crianças recém-nascidas
encontram-se presas junto com as mães em celas comuns e
superlotadas.
Já o Centro de Detenção Provisória da Zona Norte,
abriga duas vezes mais pessoas do que sua capacidade, onde
absurdamente se misturam detentos comuns,
doentes mentais e devedores de prisão
alimentícia. Nessa mesma unidade, um dos presos, que estava com
o braço quebrado, era mantido isolado e sem nenhum atendimento médico.
Dessa forma, no Rio Grande do Norte, os detentos,
assim como seus direitos, são despejados num medieval e horrendo arcabouço
carcerário.
Comentários do Professor Luiz Flávio
Gomes:
No dia 10.05.12 a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos divulgou seu “Informe sobre os direitos humanos das pessoas
privadas da liberdade nas Américas”. A situação é de calamidade pública e
extremamente preocupante. Praticamente nada está sendo feito, nessa região do
Planeta, seja para suavizar as consequências nefastas dos delitos para as
vítimas, seja para conter a violência entre os presos ou entre eles e os agentes
penitenciários. O panorama geral nos cárceres latino-americanos é desalentador.
Somente na Venezuela, de 2005 a 2009, mais de mil e oitocentas pessoas foram
assassinadas dentro dos presídios. Esse triste quadro mortífero alenta a tese de
que os presídios latino-americanos se converteram em jaulas ou campos de
concentração e de extermínio. O amontoamento ou aglomeração dos presos constitui
outro problema bastante recorrente, por falta de vagas no sistema prisional,
assim como por ausência de boas estruturas arquitetônicas. No México, por
exemplo, constatou-se que “as celas não contam (muitas vezes) com ventilação e
todos os presídios contam com superlotação”. Essa situação mexicana não é
isolada. O que se observou para o México vale integralmente para o Brasil, cujos
presídios definitivamente se transformaram em campos de extermínio e de
degradação.
*LFG – Jurista e cientista criminal. Fundador da
Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz
Flávio Gomes e co-diretor da LivroeNet. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983),
Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me no facebook.com/professorLFG, no
blogdolfg.com.br, no twitter:
@professorLFG e no YouTube.com/professorLFG.
**Advogada e Pesquisadora do Instituto de
Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes
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